Nirvana Lima | 22/02/2022 às 12:00
Arquiteto e marceneiro artesanal foi um dos premiados pelo principal evento de Design Mobiliário do Brasil
Há quem diga que a marcenaria é uma das profissões mais antigas da história humana. Lapidado pelos desígnios do tempo, o ofício milenar do corte, encaixe e entalhe da madeira evoluiu sem ser encoberto pela poeira do esquecimento. Hoje, um marceneiro não é considerado apenas um profissional, mas um artista. Este é o caso de Bruno Camarotti, ganhador da 24ª edição do Prêmio Salão Design na categoria “Desafios da identidade brasileira 2022”, com a proposta de representar o DNA do Brasil contemporâneo.
O banco tabuba, elogiado pelos jurados devido às refinadas técnicas artesanais e por sua alusão à fauna brasileira, estava entre os 562 projetos inscritos por profissionais e estudantes de design mobiliário de 12 países – entre eles, Uruguai, Espanha, México, Argentina e Reino Unido. Curiosamente, a peça ganhadora foi a primeira a ser desenvolvida por Camarotti para uma coleção de móveis batizados com nomes de praias cearenses. Sobre a honrada obra, Bruno disserta:
“Foi criado a partir das minhas referências arquitetônicas, fazendo alusão ao projeto do Iate clube Santa Paula, projeto assinado pelo arquiteto Vilanova Artigas, que tem uma estrutura incrível, no qual os pilares assimétricos, que remetem às formas dos pés do banco, e recebem vigas longitudinais que, por sua vez, sustentam uma laje plana. Fiz essa brincadeira, de arquitetura com marcenaria.”
Nascido e criado em Fortaleza-CE, Bruno Camarotti é formado em Arquitetura pela Universidade Federal do Ceará. Em meados de 2002, deu os primeiros passos de sua carreira em Juazeiro do Norte, na área de arquitetura urbana. Porém, o desejo de sair de trás das pranchetas e desenvolver algo significativo com as próprias mãos foi forte o suficiente para fazê-lo mudar a direção de sua vida. Após anos como arquiteto, Bruno decidiu recomeçar. Com o apoio da esposa e de seus dois filhos, se mudou para São Paulo e investiu no sonho de trabalhar com marcenaria artesanal que, até então, era uma semente adormecida. “Quando cheguei em São Paulo, passei a pesquisar por cursos, procurei também por feiras de design e tudo que envolvesse o design e a marcenaria”, disse Camarotti ao blog Universo OCA. O momento ímpar dessa nova trajetória foi o encontro com a produção de Morito Ebine. Dono de um dos mais respeitados ateliês de marcenaria do mundo, o japonês radicado no Brasil tornou-se a grande referência de Camarotti. O legado de Ebine, bem como sua paixão e profundo respeito pela matéria prima, foram fonte de inspiração para Bruno, que afirma: “se uma árvore dura uma vida, um móvel também precisa durar”.
Atualmente, Bruno Camarotti atua como professor na Oficinalab, em São Paulo, e em seu ateliê Camarotti Madeira & Design. Tendo em vista sua trajetória e resiliência, esse prêmio veio para, sem dúvida, coroar anos de empenho. Os aprendizados de Camarotti foram o adubo necessário para que sua semente germinasse, transformando-se em árvore de tronco forte e folhagem frondosa. Ainda ouviremos muito esse nome. A arte de Bruno Camarotti durará mais do que qualquer madeira.
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